Pois meus olhos não cansam de chorar
Tristezas, que não cansam de cansar-me;
Pois não abranda o fogo em que abrasar-me
Pôde quem eu jamais pude abrandar;
Não canse o cego Amor de me guiar
A parte donde não saiba tornar-me;
Nem deixe o mundo todo de escutar-me,
Enquanto me a voz fraca não deixar.
E se em montes, rios, ou em vales
Piadade mora, ou dentro mora o Amor
Em feras, aves, plantas, pedras, águas,
Ouçam a longa história de meus males,
E curem sua dor com minha dor;
Que grandes mágoas podem curar mágoas
(Luís de Camões, Sonetos, Pois meus olhos não cansam de chorar)
Tristezas, que não cansam de cansar-me;
Pois não abranda o fogo em que abrasar-me
Pôde quem eu jamais pude abrandar;
Não canse o cego Amor de me guiar
A parte donde não saiba tornar-me;
Nem deixe o mundo todo de escutar-me,
Enquanto me a voz fraca não deixar.
E se em montes, rios, ou em vales
Piadade mora, ou dentro mora o Amor
Em feras, aves, plantas, pedras, águas,
Ouçam a longa história de meus males,
E curem sua dor com minha dor;
Que grandes mágoas podem curar mágoas
(Luís de Camões, Sonetos, Pois meus olhos não cansam de chorar)