segunda-feira, março 26, 2007

Àaaa, o doce sabor da arrogância

"Estás para começar a ler o novo romance Se numa noite de Inverno um viajante de Ítalo Calvino. Descontrai-te. Recolhe-te. Afasta de ti todos os outros pensamentos. Deixa esfumar-se no indistinto o mundo que te rodeia. A porta é melhor fechá-la; lá dentro a televisão está sempre acesa. Diz aos outros: «não, não quero ver televisão!». Levanta a voz, senão não te ouvem: «Estou a ler! Não quero que me incomodem!». Não devem ter-te ouvido, com aquele barulho todo; fala mais alto, grita: «estou a começar a ler o novo romance de Ítalo Calvino!». Ou se não quiseres não digas nada; esperemos que te deixem em paz."

É desta forma que Italo Calvino começa Se Numa Noite de Inverno um Viajante. É um livro que nos vai dando vários, dez(!!!), inícios de outros livros em potência, que estão ligados pela presença não de personagens, mas de um Leitor. Ou seja, é um exercício, por vezes, arrogante (como se vê pelo início transcrito acima), de narrativa alegre e fluida e de uma imaginação e capacidade criadora perfeitamente desenfreada. É um livro com algum peso, é um Calvino, mas lê-se bem. #16